Uma análise da DigitalFoodLab, uma consultoria francesa de estratégia em foodtech que trabalha com marcas, varejistas e players B2B, identificou três categorias que representam “sinais de esperança” para o mercado plant-based. Essas categorias vêm atraindo crescente interesse e também investimentos significativos.
Em entrevista ao portal vegconomist, Matthieu Vincent, sócio da DigitalFoodLab, declarou: “Estamos extremamente confiantes no futuro desse setor a longo prazo.”
Cortes integrais
Nos últimos anos, os fabricantes de alimentos plant-based focaram em produtos como hambúrgueres e nuggets, pois é desafiador replicar a textura de cortes inteiros de carne. No entanto, a maioria das carnes convencionais compradas são nesses cortes maiores, o que dificultou a competição dos produtos plant-based no mercado.
Esse cenário começou a mudar com o desenvolvimento de cortes integrais plant-based inovadores. Um exemplo é a empresa SWAP (anteriormente chamada Umiami), que inaugurou a primeira fábrica em escala comercial para cortes integrais plant-based na França, após captar 35,2 milhões de euros em 2023.
Em janeiro, a Chunk Foods, produtora de bifes plant-based, conseguiu uma extensão de rodada de investimento no valor de US$ 7,5 milhões, totalizando US$ 22 milhões. A empresa obteve sucesso comercial, incluindo a inclusão de seus produtos no menu de uma rede tradicional de churrascarias nos EUA.
Já a espanhola Novameat, que desenvolve cortes de “frango”, “carne bovina” e “peru” plant-based, captou 17,4 milhões de euros em uma rodada série A em setembro. Outra empresa bem-sucedida é a Juicy Marbles, da Eslovênia, que oferece bifes plant-based em centenas de supermercados no Reino Unido.
Micélio
Muitos produtos plant-based enfrentam críticas por serem excessivamente processados, mas o micélio possui uma textura naturalmente semelhante à carne e um sabor umami, necessitando de pouco processamento. Combinado à fermentação de biomassa, ele pode ser utilizado para produzir alternativas à carne nutritivas e ricas em proteínas.
No início do ano, a empresa alemã Infinite Roots captou US$ 58 milhões em uma rodada série B, o maior investimento em micélio na Europa até hoje. Meses depois, a marca de carnes à base de micélio Meati Foods captou US$ 100 milhões e expandiu sua presença para 2.000 novos pontos de venda. Em agosto, a britânica Adamo Foods captou US$ 2,5 milhões para ampliar a produção de seu bife de micélio.
Produtos mistos e híbridos
Grande parte dos consumidores ainda não está disposta a abandonar completamente o consumo de carne, mas muitos consideram reduzir seu consumo. Um estudo recente indicou que 74% dos americanos têm interesse em comprar produtos que combinam carne convencional com proteínas vegetais.
Em agosto, o Lidl na Holanda lançou um produto de carne moída mista, contendo proteína de ervilha. Outro exemplo foi o anúncio da Quorn, com seu ingrediente Marlow, de que misturaria micoproteína com carne bovina para ser servida em hospitais do NHS, no Reino Unido.
Produtos híbridos, que combinam carne cultivada e ingredientes plant-based, também podem atrair grande interesse. Inicialmente, eles podem incluir gordura cultivada em produtos plant-based para melhorar o sabor. A espanhola Cubiq Foods, por exemplo, captou US$ 6 milhões em 2022 para comercializar sua gordura cultivada.
Enfrentando desafios
Apesar desses sinais positivos, a DigitalFoodLab alerta sobre desafios persistentes no mercado plant-based, entre eles:
- Custo: Para competir com produtos de origem animal, os alimentos plant-based precisam alcançar paridade de preço, o que depende do aumento de escala, impulsionado pela demanda nas categorias mencionadas.
- Sabor e textura: Muitos consumidores ainda estão insatisfeitos com o sabor e a textura das alternativas vegetais, mas novas inovações podem mudar esse cenário.
- Nutrição e saúde: Tecnologias como fermentação de biomassa podem ajudar a simplificar as listas de ingredientes, enquanto a inclusão de pós-bióticos pode tornar os produtos plant-based ainda mais saudáveis.
- Aceitação: Mensagens de saúde pública sobre os benefícios de dietas plant-based são essenciais, mas é preciso adaptar o discurso regionalmente. Por exemplo, consumidores asiáticos valorizam esses produtos, mas são sensíveis ao preço e à saúde, enquanto europeus tendem a ser céticos em relação a alimentos processados, podendo se interessar mais por boa nutrição e preços razoáveis.
“Com essa análise, queremos compartilhar uma visão dos principais desafios que o setor plant-based enfrenta, bem como as soluções que estão sendo desenvolvidas,” afirmou Vincent ao vegconomist. “Mesmo que muitos atores do setor estejam impacientes, é importante lembrar que essa indústria ainda é jovem. As soluções levarão tempo para alcançar o consumidor final. Estamos extremamente confiantes no futuro desse mercado a longo prazo, mesmo que sua evolução não seja tão linear quanto o esperado há alguns anos.”
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